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A história começa antes de começar…

Quando eu era pequena viajava muito com meus pais. Minha mãe gosta de contar que quando eu tinha 7 anos, em uma viagem ao Uruguai, ao sair do carro e ouvir toda aquela gente falando espanhol, me virei para ela, muito preocupada, e perguntei: “E agora? Como vou fazer para me entenderem aqui?”

Não sei foi essa a primeira vez, mas o fato é que sempre me ocupei da comunicação entre pessoas de diferentes culturas. E assim, prestando tanta atenção nas outras línguas, nos outros jeitos de comunicar, naturalmente comecei a ensinar inglês, que aprendi desde muito pequena. (Obrigada, mãe!) Mais tarde conclui que queria ser tradutora. E foi o que eu me tornei. Sempre ensinando em paralelo, no esforço de fazer bem o meu trabalho de tradutora, porém, me dei conta de que o melhor tradutor não é visto nem ouvido nem lido; o melhor tradutor não aparece. E não é que eu quisesse exatamente aparecer, e sim que eu tinha coisas a dizer: os contatos com alunos e aprendizes e as outras línguas que eu aprendia – alemão, francês, espanhol, japonês – me enchiam de ideias. Ideias sobre o mundo das palavras, sobre a comunicação entre as culturas, e principalmente sobre o quanto esse mundo das línguas humanas me encanta, nos revela quem somos e como podemos melhorar, e nos ajuda a entender todas as coisas.

Revirando e reencontrando o destinodsc_0467-pb

Então mudei completamente de área. Fui fazer um mestrado em organizações, que é uma área da Administração. Estudei a relação que existe entre o pensamento e a palavra e cultura. Foi uma experiência muito gratificante! Só que agora, embora eu tivesse uma graduação em Letras e um mestrado em Administração, estava mesmo em um limbo, uma área entre áreas, portanto em princípio em área nenhuma! Mas durante o meu mestrado tive a oportunidade de criar e dirigir o Senac idiomas do Rio Grande do Sul. E em poucos meses, com método próprio e uma sede no centro de Porto Alegre só para nós, tínhamos mais de 2000 alunos. Ensinando inglês e espanhol através de um trabalho inovador, com uma equipe de 100 profissionais entre professores e administrativos, eu estava começando a dizer as coisas que eu queria sobre a palavra, as línguas o processo de aprender que funciona.

Também não era isso. Não sou uma burocrata, e quando o trabalho de criação no Senac foi concluído eu sai. Nessa época prestei minha primeira consultoria, que foi em uma grande empresa de telecomunicações. Aos poucos percebi que estar em área nenhuma era na verdade estar em uma área nova. Entendi que o adulto profissional que quer aprender inglês precisa de um processo personalizado com etapas definidas que são diferentes para cada pessoa. Impor um conteúdo, um método com comunicações prontas como é tradicionalmente feito, fica muito distante das necessidades reais das pessoas. Assim fica difícil mantê-las realmente interessadas no aprendizado do idioma. Mas isso foi em 1997…. Se ainda hoje falar nisso soa como novidade, imagine há 20 anos atrás.

Meu próprio negócio, que não era uma escola mas uma consultoria para criar treinamentos e avaliações de idiomas com esse foco, soava como uma maluquice para muitos. Para começar, tinha gente que nem entendia do que eu falava. Mas também tinha clientes, grandes empresas internacionais que precisam exatamente daquele serviço. Executivos e equipes que queriam que lhes fosse ensinado o que precisavam aprender. E por que eu? Porque aquela ponte entre as áreas de gestão e letras combinada com criatividade e a experimentação deu origem a uma visão única, um serviço único. Junto com tudo isso eu ficava sonhando em levar até as pessoas um caminho possível, sem mitos e sem mistérios – algo que fosse claro, viável, algo que desse para fazer e aproximasse a obra do construtor, o aprendiz do aprendizado. Para mim a palavra era e é preciosa demais pra ser objeto de mistério. A palavra tem de estar ao alcance de todos. Em qualquer língua.

O livro apoia o negócio ou o negócio é produzir livros?

Como consultora, achei que faria bem para o meu negócio escrever um livro. Pisando em ovos publiquei o Inglês Urgente para Brasileiros em outubro de 1999. . Sabe, quando a gente faz uma coisa muito diferente da maioria e tem um pouco de autocrítica, a gente se sente esquisito. Como era diferente? O livro era em português. Sobre inglês. Escrito por uma brasileira. Não bastasse isso, ainda explicava por que erramos, traçando os erros até a influência da nossa língua mostrando como a consciência das diferenças entre os idiomas nos ajuda a melhorar Mas em 3 dias o livro vendeu 1700 exemplares. Isso era muita coisa! A editora mal acreditava. E assim inaugurei um novo nicho no mercado de livros de idiomas no Brasil e no mundo, hoje totalmente consolidado. O Inglês Urgente, sozinho, já vendeu em torno de 100.000 exemplares, e depois dele já são outros 29 títulos sobre inglês para negócios, sobre pronúncia para brasileiros, sobre vocabulário, enfim – animada com a acolhida das minhas ideias pelo público leitor, nos últimos 18 anos produzi uma pequena biblioteca!

Você pode achar que ok, está bom assim – não? Pois não está. Eu tinha essa ambição, quase uma obsessão, por desenvolver algum recurso que fosse acessível por muitos e que fosse descomplicado. Porque eu via uma relação entre as palavras e as coisas que ajudava a entender ambas: entender que a realidade se faz com as palavras e que elas são o caminho para entender a realidade. Nosso jeito de falar mostra como vemos as coisas e portanto como atuamos sobre elas. Pois não existe um jeito apenas – mas infinitos jeitos de descrever as coisas. E na comunicação simples do dia a dia existem chaves ao alcance de todos nós que explicam o que as palavras fazem – em qualquer língua.

Testando – e vencendo – limites

Pois é, mas nesse meio tempo, muita coisa aconteceu. Veio a crise financeira global de 2008 e os projetos da Consultoria foram reduzidos a um punhado. Precisei demitir 13 das 15 pessoas que eu empregava, passando a trabalhar com terceirizados apenas. Me vi obrigada a recomeçar do zero. Não apenas como negócio, com outras formas de receita, mas na operação também, voltando a fazer coisas que há muito eu simplesmente delegava. Foi uma escola maravilhosa. Porque eu descobria que podia fazer tudo, e que era bom ter essa flexibilidade, enfrentando as demandas que surgiam.

Foi um pouco depois dessa fase que meu editor me sugeriu escrever sobre um sistema que eu tinha criado, um sistema de entender as palavras e as frases que eu chamava de Gramática Intuitiva. Como para mim a GI era óbvia, eu achava que aquilo não dava livro, mas ele insistiu. O objetivo da GI sempre tinha sido de ajudar a entender e adquirir outra língua (eu usava o sistema para explicar uma que outra palavra e frase em inglês), mas ele insistiu que tinha de ser para brasileiros, em português, que não precisava nem deveria envolver o inglês. No inicio eu duvidei, mas com o tempo fez todo o sentido. Porque nós brasileiros temos uma relação de desamor com a nossa língua. Achamos que é errada, sem valor. Uma língua que não é língua e que ninguém sabe falar direito. A GI é aquela base, aquele ponto de partida que permite que a gente se desenvolva de verdade, pois parte do que é, e não do que deveria ser, das regras que ninguém sabe. Para mim, escrever a Gramática Intuitiva foi o passo que faltava para consolidar a visão do conhecimento e da aprendizagem de idiomas que eu sempre almejei compartilhar com meu público.

Um livro diferente de todos os outros

Só fui me dar conta do potencial da GI quando recebi a ligação de um casal de psicólogos de São Paulo, maravilhados com o sistema nela proposto. Eles me disseram que com aquela abordagem eu estava na verdade estabelecendo novas sinapses nos cérebros dos aprendizes. Aquilo me animou, e resolvi usar o livro, que é todo em português, para preparar as pessoas para aprender inglês. E realmente, pessoas que passaram pela Conectação, que é o nome do treinamento de inglês com a Gramática Intuitiva e a Gestão da Palavra, me deram depoimentos surpreendentes do seu aprendizado. Uma delas começou a ler fluentemente após a 5a sessão. Outra me escreveu um email de várias linhas após a 7a sessão. Vários tiveram insights sobre o que podem fazer quando se apropriam do conhecimento da palavra, deixando de usá-la de forma automática. Muitos vislumbraram os idiomas com partindo da mesma ideia básica, o que fez com que se desmanchassem o mistério e a impotência.

Só tenho motivos para festejar esse passo muito além que eu dei e que agora está gerando todos esses frutos. Eu coloquei todo meu esforço, pensamento e criatividade de muitos anos na construção desse sistema. São centenas de tópicos que atendem às necessidades especificas de cada aprendiz ou conectante, que é quem faz a Conectação comigo. Ninguém recebe exatamente os mesmos conteúdos, ninguém aprende na mesma ordem, nem com as mesmas ênfases ou explicações, mas o sistema todo é de todos. A GI não é um método, é uma forma de entender as palavras, e de pensar.

Meu sonho para nós

Quero que nós brasileiros participemos mais das coisas do mundo, e que possamos mais e mais integrar nossas consultas online, viagens, reuniões, apresentações, trabalhos e comunicações em geral na língua que o mundo fala. Quero que atuemos em inglês, que sejamos ouvidos e que possamos ouvir, nos expressar, participar mais e mais na Web, atuando com segurança e a certeza de que temos muito a contribuir. Quero de uma vez por todas o inglês deixe de ser um objetivo e seja só um meio. Quero que nosso objetivo passe a ser nossa integração cada vez maior, nossa troca informada com outros povos. Eu vivo hoje parte do meu tempo na Nova Zelândia, onde curso um Mestrado (sim, outro! agora voltei pra lá de onde vim) em Linguística Aplicada na School of Linguistics and Applied Language Studies da Victoria University of Wellington. Tem sido um prazer enorme estudar métodos e abordagens e trocar com autores e acadêmicos com sólida contribuição para a reflexão e o desenvolvimento do conhecimento de idiomas – e por que não dizer logo, de inglês – e fora da universidade ver gente de tanas origens diferentes convivendo tão harmoniosamente. A Nova Zelândia é um país cosmopolita – ela materializa ao traço desses nossos novos tempos, de convivo entre culturas. Me inspira ver que isso pode existir, e me alimenta de energia e entusiasmo pensar que podemos, sim, falar com o mundo. Fico esperando ver uma menina brasileira recém chegada sair de um carro falando inglês lá na Nova Zelândia.

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